quarta-feira, 13 de abril de 2011

Comentário ao relatório The State of the News Media 2011

O nosso grupo de trabalho decidiu abordar a temática da televisão por cabo: audiências e a vertente económica. Esta escolha prendeu-se com a curiosidade em conhecer a realidade americana, poder fazer um paralelo com a realidade portuguesa, e até quem sabe, entender para onde caminhamos. Após a leitura do relatório constatamos que Portugal está a caminhar para o modelo americano.

The State of the News Media 2011 é um relatório anual sobre o jornalismo americano elaborado pelo Pew Research Center´s Project for Excellence in Journalism. Este relatório tem como objectivo tirar conclusões e analisar as movimentações em várias áreas das principais estações de televisão norte-americanas.

O relatório engloba três grandes estações de televisão norte-americanas: Fox News, CNN/HLN e MSNBC.
O documento começa por revelar que foi registado um aumento dos lucros nas três estações mencionadas. Esse lucro não se deveu apenas a cortes nas despesas, deveu-se sobretudo ao investimento nas noticias. As estações de televisão mencionadas investiram bastante também na recolha da informação e em garantir os melhores profissionais.

Uma das primeiras conclusões deste relatório refere o decréscimo de 16% de espectadores em horário prime time, onde a audiência é mais vasta e assim, mais atraente para as marcas colocarem os seus anúncios ou publicidade. A CNN caiu 37%, enquanto a Fox 11% e, finalmente, a MSNBC 5%. No total, a audiência média de noticias por cabo caiu 12%.
Segundo os autores do estudo, passados 30 anos, as noticias por cabo ganharam um espaço amplo mas algo limitativo no eco-sistema da informação.
Agora há que entender se as pessoas vêem, de facto, as notícias ou se lá estão por causalidade. 

Esmiuçando a realidade norte-americana, o estudo concluiu que em 2010 a CNN sofreu vários problemas e instituiu várias mudanças. O presidente foi substituído e a programação alterada em horário prime time.
A Fox assumiu uma estratégia oposta: apostar na prata da casa e em contratos de longo prazo.
A MSNBC, com novos donos, despediu uma das grandes estrelas do canal e acreditou poder continuar a programação mais liberal no que toca ao prime time.
Os três canais avançaram de uma forma mais agressiva no sentido das plataformas digitais. Nesta fase podemos começar já a esboçar um paralelismo com a realidade portuguesa, onde cada vez mais ouvimos falar nas plataformas digitais, nos sites dos canais, nas versões ipads, iphone e na possibilidade de fazer o download do podcast para o ipod.

Uma potencial ameaça em 2010 não se consumou, mas não deixa de merecer destaque e reflexão: a possibilidade de cancelamento da televisão paga pelos americanos, uma vez que podem aceder à informação noutras plataformas. No fim, entenderam que os americanos não estão a abandonar a televisão por cabo: estão sim a abandonar os canais de noticias em detrimento de outros canais temáticos. 
Em Portugal, e abordando agora a nossa realidade, jovens, estão cada vez mais adeptos do ecletismo televisivo, os jovens são cada vez mais adeptos de séries, documentários, no fundo, mais adeptos dos canais temáticos, seja desporto, História. Isto acontece por uma razão simples: temos a internet onde pesquisar seja que assunto for, temos a rádio quando vamos no carro, temos os jornais tradicionais, até os telefones agora, os ipads, enfim, um mar de recursos a dizer-nos o que se passa no mundo, portanto queremos outra funcionalidade para a televisão, normalmente mais relaxante ou de entretenimento. 

Depois chegamos a uma fase do relatório que achamos muito pertinente de discutir, e reflectir, e se não será este um dos próximos passos em Portugal, para já parece muito distante esta realidade. Uma lição em 2010 foi a confirmação das noticias por cabo enquanto difusores de ideologias ou então discussões, debates, ou algum "opinion-maker" em estúdio. Existem então uma divisão: Fox + MSNBC vs CNN. As duas primeiras apostaram nesse modelo, enquanto a CNN procurou oferecer um leque de visões, procurando a justiça televisiva e não tendendo para nenhuma ideologia. O resultado foi o afundamento da CNN, e o responsável do gabinete de marketing da MSNBC afirma uma coisa muito curiosa e pertinente: "Quando estás certo sobre ti, fazes dinheiro" - Ou seja, no dia que é definido o posicionamento e ideologia, a identidade do canal, a probabilidade de sair a ganhar cresce, pois em vez de procurar agradar a gregos e troianos, e no fundo afastar ambos, assim agarra um público, procura a fidelização dos espectadores. Já Bill O´Reilly, um famoso anfitrião de um programa de noticias da Fox, afirma que as pessoas já sabem as notícias porque existem várias formas de as saber, como rádio, internet, etc, e não pretendem ouvir uma repetição, portanto preferem ouvir uma análise, um ponto de vista. 

Bem, relativamente a esta visão de O´Reilly podemos dizer que Portugal adoptou este modelo: tanto a SIC Noticias, RTPN e a TVI24 têm constantemente debates sobre todas as áreas que estão na agenda, seja economia e a entrada do FMI, seja desporto, tudo. No entanto, se vão no sentido da análise e debate, já na questão da repetição é diferente, em Portugal, estes canais normalmente fazem uma actualização de hora a hora, mesmo que seja com as mesmas noticias, desta forma cansa os espectadores, mas demonstra também que há sempre nova audiência a ver o canal.

Regressando à realidade norte-americana, segundo o relatório, a CNN está presa à estratégia de garantir a neutralidade, orgulhosamente considera-se uma fonte de jornalismo imparcial. O presidente da CNN, Jim Walton, afirma que a CNN é a única a gozar de credibilidade.
A maior mudança na CNN foi a substituição do presidente. O novo presidente afirmou que a programação do canal era aborrecida e que deveria acrescentar mais interesse à mesma e dar mais atenção aos interesses do espectador: viewer-focused. - Fazendo novo paralelismo com Portugal, parece-me que os canais de noticias por cabo têm em atenção o interesse do público português, seja em debates políticos para permitir um moldar de opinião e posição do povo, tendo então o papel de informar e educar, ajudar a formar opinião, ou nos acalentados debates sobre a última jornada do futebol, onde se discutem, por vezes cegamente, os lances polémicos de arbitragem, e o português comum gosta disso.

Seguidamente, vem abordado um factor que levou a MSNBC a perder popularidade, ou melhor, um programa apresentado por Keith Olbermann. Foi descoberto que Keith Olbermann contribuiu para a campanha de três candidatos democratas. Este tipo de prática não tem registo em Portugal, embora saibamos que há várias pessoas/movimentos que abordam o apoio ilícito de campanhas políticas com o fim de obter benefícios posteriores.
Em Abril, outro problema na mesma estação de televisão: suspensão do pivot David Shuster depois de ter sido descoberto que fez um programa piloto para a CNN. - Começamos a entender que há grandes diferenças no jornalismo e forma de gerir uma estação de televisão nos EUA e Portugal, com a análise deste relatório temos a sensação e percepção que há mais rivalidade nos Estados Unidos neste órgãos de comunicação, é natural, o país é enorme, outras ambições, exposição maior, e o dinheiro que é pago aos profissionais é também de outro patamar. Ainda assim, ultimamente e como sempre, mais vanguardista, talvez adoptando o modelo americano, vemos a TVI a contratar nomes conceituados e respeitados do jornalismo português, como a Judite de Sousa, com o intuito de garantir e emprestar mais credibilidade ao seu bloco informativo, tentando talvez dissociar-se da ideia de sensacionalismo e pouco profissionalismo de Manuela Moura Guedes. 

No seguimento das estações estarem a tentar construir uma nova imagem, a MSNBC adoptou então uma nova estratégia: nova mensagem ao nível do marketing, onde propunha uma passo em frente, e segundo o New York Times, é uma campanha nova que revela a identidade política do canal.
A Fox manteve a estratégia que tinha resultado: renovar contratos com os que já lá davam o (bom) contributo.

Em termos de inclinações ou ideologias políticas, estava cada vez mais explicito o que apoiavam: MSNBC com visão liberal e a Fox uma imagem conservadora. Em Agosto, foi revelado que uma empresa ligada à Fox, doou um milhão de dolares para a Associação de Governadores Republicanos. 
Há também registos de pressões no sentido de favorecimento em debates de um certo partido, o relatório aborda o caso da Fox, onde tencionava que o debate privilegiasse a discussão sobre o sistema de saúde, no qual os Republicanos ficariam melhor posicionados para obter popularidade.
Em Portugal, não nos parece ser assim tão claro que os moderadores "inclinem" o debate, porém, é do interesse público que sejam em directo e que os intervenientes não tenham acesso às perguntas, algo que geralmente têm.

Entrando agora na dimensão económica e da publicidade, é importante referir mesmo com os canais de notícias a cair no ranking, os seus lucros continuam a subir e isso deve-se a grandes contratos de publicidade que são feitos por períodos mais largos. Como sabemos, há todo um ciclo vicioso: se as pessoas vêem, interessa-me colocar anúncios no canal, e para tal tenho de convencer as agências ou marcas que as pessoas querem ver e vão aderir à programação do canal, se as pessoas aderem e tem muita audiência, os anúncios ficam mais caros, consoante também o horário, os anúncios mais caros são, naturalmente, no prime time.
Como demonstra o relatório, por vezes é complicado dissociar certos rótulos dos canais de televisão, os autores do estudo revelam que a Fox tem em marcha uma campanha para convencer os publicitários ou as marcas que os espectadores da Fox não estão limitados a idosos ou pessoas mais conservadoras, e que vale a pena investir no canal. O relatório afirma que o canal Fox tem alguns programas com alguma controvérsia, e que certas marcas ou publicitários afastaram-se, especialmente de um programa apresentado por Glenn Becks, no qual o próprio acusou Barack Obama de ser racista. É natural que as marcas se demarquem deste tipo de atitudes e posições. Os atletas por exemplo, perdem milhões por atitudes irreflectidas, Tiger Woods é um exemplo, perdeu milhões em contratos publicitários depois de se saber que traía a sua mulher.
Em Portugal não é muito mencionado esse tipo de quebras de contrato por questões de imagem, já os clubes de futebol e outras entidades tomam certas decisões de se afastar de certo órgão de comunicação. Há um caso recente em Portugal de divergência entre um partido político e um órgão político, houve um problema entre o Governo de José Socrates e o canal TVI, a consequência foi a rejeição de todos os ministros do Governo a convites de Manuela Moura Guedes, no Jornal Nacional de 6ª feira.

A seguir foi abordada a importância do mundo digital. Uma das preocupações das estações é conduzir o público também para as plataformas online. A Fox consegue a proeza de ser o canal por cabo mais visto e na versão online ser o menos popular. 
O relatório indica que em 2010 a Fox começou a movimentar-se no sentido de ganhar relevo a nivel da web, mas de uma forma ainda lenta e pouca agressiva. Uma prova disso é não haver aplicações para ipad no início de 2011.
A CNN entende o mundo digital como uma oportunidade de negócio. Segundo a Time Warner, empresa ligada à CNN, as vendas web da CNN estão ao nível da publicidade do canal CNN em horário nobre, algo que consideramos surpreendente.

Em 2010, a CNN e outras entidades de media estavam a apostar cada vez mais no video, no website da empresa. O relatório revela que a CNN é talvez a empresa com mais seguidores no Twitter. É importante referir que estamos na época que consideramos o "Nowism" ("Agorismo" portanto), e todo este novo mundo das redes sociais, como twitter e facebook têm um grande peso, no que toca à imagem das empresas e elevação das mesmas. A criatividade, e sobretudo a presença são um trunfo nos dias de hoje.
Em Dezembro de 2010, a CNN lançou a aplicação para ipad. A CNN está no número 1 no que toca a downloads de aplicações de notícias.
A MSNBC também alterou a forma como olhar o mundo web. Decidiu dar mais ênfase ao video, à fotografia, à imagem, menos texto e menos banners publicitários. Em Janeiro de 2011 inovou e lançou a primeira aplicação gratuita para iphone e ipod touch.
Em Portugal está-se a dar cada vez mais importância à web e plataformas online. Os sites são cada vez melhor cuidados. O nosso grupo por vezes necessita de ver alguma notícia ou reportagem e vai ao site dos canais televisivos.

Os autores do relatório perguntaram-se se os canais por cabo devem estar preocupados com o crescimento das plataformas online e digital. Os autores consideram possível e normal o receio das pessoas cortarem com a televisão paga, isto porque podem ter acesso a quase tudo via internet. O nosso grupo considera que a televisão ainda está muito envolvida, entranhada na vida das pessoas, mas julgamos que o desaparecimento da televisão é possível. A internet oferece-nos tudo, telejornais, notícias, entretenimento, as tais séries que roubam os espetactores dos canais de notícias. Disponibiliza tudo. 
Uma conclusão do estudo revela que mais preocupante (para já) que as pessoas desligarem-se da televisão, é as pessoas estarem a "fugir" dos canais de notícias, e aderir a canais temáticos. Por exemplo, o canal História e a Ion Television aumentaram em 25% os seus espectadores. O Discovery Investigação cresceu 64% em termos de espectadores. 
Uma coisa temos de concluir antes de todas as hipóteses: a televisão está cada vez mais segmentada, fragmentada. O individuo gosta de controlar a sua emissão, ter o poder. Escolher o que e quando ver. Concluímos que este sim, é um indicador para a possível vitória ou ameaça do mundo digital sobre a televisão. 
Voltando ao panorama norte-americano, estamos a falar de perdas dos canais de notícias num ano em que no qual aconteceram tragédias como o sismo no Haiti ou a derrame de óleo no Golfo do México.
Em jeito de conclusão, o relatório revela que as agências de publicidade e marcas estão a acompanhar as pessoas, para os canais "não-notícias".

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